A coleção "suspenso" nasceu da observação de como a vida acontece. Como ocupa cada vão, cada possível umidade, para continuar. Como aquilo que deseja rompe o tecido do mundo e forja texturas a partir de suas próprias cicatrizes. Em se tratando de cicatrizes, este é um trabalho pretérito, mas não acabado. Diz do que que não toca o chão, do que fica preso na teia fina de antes e agoras. Como se, em um quintal, tivéssemos dois tempos: o da violência verde daquilo que brota apesar da casca rude da terra e o tempo das aranhas: armadilha de delicadezas, que mantém suspenso o que já não vige, mas que vale olhar mais uma vez.
Antes de pintar as paredes das cavernas, o homem se enfeitou. Enfeitou-se tanto para ultrapassar a si mesmo e comungar da beleza do mundo, quanto para reafirmar seu pertencimento ao clã e sua posição dentro deste, reconstruindo continuamente os marcos de identidade e diferença que o sustentavam. Muda o universo, os clãs, mas não o jogo entre estes dois extremos, tampouco o papel que o adorno aí desempenha. No que o corpo exibe, pode-se ler o lugar que ele ocupa ou quer ocupar.